domingo, 6 de maio de 2012

O inspirador cemitério de Jorge Amado


Hoje , pensando nas vezes em que fiquei chateado, magoado, enfim, pê da vida com alguém, seja amigo ou conhecido, e ficava me martirizando nas razões para o acontecido, resolvi seguir o exemplo do Jorge Amado. Calma, já vou explicar, mas antes é de se perguntar por que eu, leitor  voraz e conhecedor da maioria das obras deste autor , ainda não tinha lido Navegação de Cabotagem,o tal livro de apontamentos para um livro de memórias que , segundo ele, jamais escreveria, e cumpriu. Maravilhoso o livro, memórias e histórias sensacionais, e o melhor, engraçadíssimas, típico do Jorge no dia a dia, segundo Zélia, a eterna namorada. Mas vamos à explicação do início  deste artigo, o porque da inspiração no tal cemitério do Jorge Amado: "Possuo, no entanto, um cemitério meu, pessoal, eu o construí e inaugurei há alguns anos quando a vida me amadureceu o sentimento. Nele enterro aqueles que matei, ou seja, aqueles que para mim deixaram de existir, morreram: os que um dia tiveram minha estima e a perderam.Quando um tipo vai além de todas as medidas e de fato me ofende, já com ele não me aborreço, não fico enojado ou furioso, não corto relações, não lhe nego o cumprimento. Enterro-o na vala comum de meu cemitério- nele não existem jazigos de família, túmulos individuais, os mortos jazem em cova rasa, na promiscuidade da salafrarice, do mau caráter. Para mim o fulano morreu, foi enterrado, faça o que faça, já não pode me magoar. Raros enterros- ainda bem!- de um pérfido,de um perjuro, de um desleal, de alguém que faltou a amizade, traiu o amor, foi por demais interesseiro, falso, hipócrita, arrogante- a impostura e a presunção me ofendem fácil. No pequeno e feio cemitério, sem flores, sem lágrimas, sem um pingo de saudade, apodrecem uns tantos sujeitos, umas poucas mulheres, uns e outros varri da memória, retirei da vida. Encontro na rua um desses fantasmas, paro a conversar, escuto, correspondo às frases, ás saudações, aos elogios, aceito o abraço, o beijo fraterno de Judas. Sigo adiante, o tipo pensa que mais uma vez me enganou, mal sabe ele que está morto e enterrado." Agora me digam: é ou não é uma boa forma de não se desgastar à toa por gente que não vale a pena? Peço licença ao Jorge, e faço minhas estas palavras, ou melhor, faço uso desta ideia que ele soube conceituar tão bem. Aliás, pensando bem, a gente as vezes até já usou a expressão fulano para mim está morto e enterrado, mas esta conceituação é sensacional né não?  É, este Jorge Amado era mesmo genial !



4 comentários:

  1. Sensacional! realmente uma ótima maneira de não se desgastar com os comentários inúteis que ouvimos todos os dias e com pessoas que simplesmente não valem a pena.Além de ser ótimo para quem usa esse cemiterio particular que não se magoa tão facilmente e torna-se uma pessoa "elevada" que não guarda rancores, apenas enterra aquilo que não lhe faz bem!Vou adotar um cemiterio também!!

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    1. Obrigado pela visita Ana, faça bom uso do seu "cemitério" particular. Bjs e obrigado pela visita ao blog.
      Luiz diCastro

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  2. Sensacional !!! Vou construir o meu agora mesmo . Sucesso para o blog

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  3. Perfeito Luiz Castro!! Eu construía cemitério sem saber dar nome a tal!! Sábios pensamentos de Jorge Amado que você faz uso!!
    Parabéns pelo blog..

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